O QUE É CINECLUBE
Cineclube é uma iniciativa do público, uma associação sem fins lucrativos que estimula os seus membros a ver, discutir e refletir sobre o cinema.
Existem cineclubes dos tipos mais variados: em bairros com pouca estrutura de cultura e lazer; em cidades pequenas, onde não há cinema; em colégios, faculdades, escolas de cinema; junto a movimentos sociais, rurais e urbanos, ou a entidades ligadas à defesa do meio ambiente; em sindicatos e associações profissionais; em empresas e em bares; atuando no campo dos direitos e da preservação da cultura de grupos populacionais, como os afro-brasileiros e os índios, ou mesmo de comunidades de imigrantes, internos e externos; os que trabalham com a questão dos gêneros e diversidade de orientação sexual; os ligados a partidos políticos, os que estudam cinema – e até mesmo um gênero ou uma bitola - e os que reúnem colecionadores de filmes. É praticamente impossível, inesgotável, a classificação dos cineclubes. Em toda parte, aonde o cinema não chega ou aonde o que chega não satisfaz, a população, o público organiza cineclubes.
O cineclubismo surgiu nos anos 20 do século XX na França. No Brasil ele surge em 1928 com o Cineclube ChaplinClub no Rio de Janeiro.
O dicionário define cineclube como uma "associação que reúne apreciadores de cinema para fins de estudo e debates e para exibição de filmes selecionados", mas a imprensa e o senso comum amesquinham esse sentido e tratam o cineclubismo como uma atividade de mero lazer cultural, fomentada talvez por algum tipo de nerd, um tipo de fanático juvenil amante do cinema. Ou como um sinônimo de sofisticação do consumidor, uma espécie de grife que adorna desde sessões especiais na televisão até salas "diferenciadas" que exibem os filmes com expectativa de público menor. Misturando um pouco de cada, também chamam de cineclube às beneméritas iniciativas de organizações culturais, educacionais, patronais e paternais voltadas ao atendimento de variadas comunidades. É claro que todas essas atividades têm seu lugar, sua necessidade, seu público dentro da sociedade. Nada contra. Mas cineclube é outra coisa.
Os cineclubes têm uma história própria, que liga a evolução do seu trabalho às diferentes situações nacionais, culturais e políticas em que se desenvolveram. Há vários tipos de cineclubes, alguns predominam em determinados países, em certas conjunturas. Em situações diferentes suas formas de organização e atuação também variam.
Os cineclubes surgiram nitidamente em resposta a necessidades que o cinema comercial não atendia, num momento histórico preciso. Assumiram diferentes práticas conforme o desenvolvimento das sociedades em que se instalaram. Mas assumiram uma forma de organização institucional única que os distingue de qualquer outra.
Três características, quando juntas, são exclusivas dos cineclubes, os distinguem de qualquer outra atividade com cinema e, ao mesmo tempo, abrangem uma ampla gama de formas e ações que os cineclubes desenvolveram nos mais diferentes contextos. Duas delas são muito simples e claras, só se encontram, juntas, num cineclube, e não existe cineclube onde essas características não estiverem presentes. A terceira, menos objetiva, deriva das duas primeiras e pode variar bastante de entidade para entidade, conforme a orientação predominante, mas é o que imprime direção à base organizacional definida pelas outras duas "regras" e o que dá conteúdo e objetivo, atualidade e personalidade ao trabalho do cineclube. São elas:
· O cineclube não tem fins lucrativos;
· O cineclube tem uma estrutura democrática;
· O cineclube tem um compromisso cultural ou ético;
Os "cinemas de arte" têm dono, e seu objetivo maior é o lucro. Cumprem um importante papel no cinema e no mercado, mas são empresas, não associações, contratam ou nomeiam responsáveis; podem ser iniciativas boas, justas, eficientes e necessárias, mas, a rigor, não são democráticas. Num cineclube, os responsáveis pela sua orientação são necessariamente eleitos. Não ter fins lucrativos é outro elemento fundamental. É claro que a busca do lucro restringe o alcance de qualquer atividade, quando não sacrifica, em maior ou menor grau, sua qualidade. No cineclube, ainda que ele produza superávits financeiros com as suas atividades, esses resultados têm (até por lei) que ser reinvestidos na própria atividade: são, portanto, apropriados pela comunidade. Nesse sentido, o cineclube não é uma instituição tipicamente capitalista. O que nos leva à terceira "lei": organizado com base na mobilização de seus associados em função de um objetivo não financeiro, os cineclubes se voltam para fins culturais, éticos, políticos, estéticos, religiosos. Quase sempre realizam, de alguma forma, mesmo parcialmente, seus objetivos. Ou seja, os cineclubes produzem fatos novos, interferem em suas comunidades, contribuem para mudar consciências e formar opiniões, mobilizam.
Não raro, são as sementes que chegam à floração de cineastas e outros artistas; crescem como instituições, transformando-se em museus, cinematecas, centros de produção; criam o caldo de cultura para mudanças culturais, comportamentais, para a geração de movimentos sociais. Os cineclubes produzem e modificam a cultura.
Estas três características também estão consagradas na legislação da maioria dos países. No Brasil, desde o final dos anos 60, com a Lei 5.536 (de 21/11/68) e, mais tarde, com as conquistas obtidas pelo movimento cineclubista organizado, com a Resolução nº 30 do Concine (1980), os cineclubes tinham de ser "associações culturais sem fins lucrativos", que aplicassem seus recursos exclusivamente em suas atividades culturais cinematográficas (também definidas na legislação).
(Texto: Felipe Macedo)
(Texto: Felipe Macedo)
Confira alguns sites sobre o movimento:
Veja alguns depoimentos e experiências cineclubistas:
Apresenta diversas realidades de cineclubes espalhados pelo país, mostrando as mais variadas formas de se fazer cinema.
O que é cineclube para você?
Algumas pessoas explicam o que é cineclube para elas.
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